Debate nas redes é dominado por antifeminismo no Brasil


Quanto mais se pensa e se fala sobre igualdade, mais diverso e moderado tende a se tornar o debate. No entanto, os dados indicam que a sociedade não está caminhando nesta direção. De acordo com o mais novo estudo da LLYC, nos últimos três anos, as consultas na internet sobre “igualdade” e “feminismo” caíram 43% no Brasil. No X (antigo Twitter), o diálogo não apenas estagnou como a polarização aumentou e 56% das mensagens sobre feminismo nesta rede social já são antifeministas, com 44% pertencendo à comunidade feminista. Essa é uma das principais conclusões do relatório “SEM FILTRO”, elaborado pela LLYC.
O estudo anual integra um esforço da LLYC no sentido de trazer luz aos temas femininos, portanto é sempre lançado próximo ao Dia Internacional da Mulher. Nesse ano de 2025, o relatório analisa como as redes sociais consolidaram-se como ferramenta de ataque contra o discurso feminista e o que está por trás dessas comunidades.
Constatou-se, por exemplo, que 98% dos perfis anti-igualdade têm uma forte carga política, sendo radicalizados, o que dificulta o diálogo. Além disso, no Brasil, a comunidade feminista está 13% mais dispersa do que a média dos outros países analisados, tornando o debate mais plural e diverso. Curiosamente, o lado antifeminista também apresenta um perfil menos concentrado, com uma dispersão 46% maior do que a média global, o que demonstra uma maior diversidade de opiniões dentro desse grupo no país.
O Brasil também se destaca como o país onde o feminismo é mais associado a um movimento ideológico e partidário: até 37% das mensagens analisadas fazem essa conexão, reforçando a percepção de que o debate sobre igualdade está politizado. De certa forma, avalia-se que tal narrativa contribui para a estagnação da discussão, dificultando avanços em temas ligados à equidade de gênero.
“Os dados mostram que o Brasil segue a tendência global de polarização no debate sobre igualdade, mas também traz características próprias, como uma maior dispersão no discurso antifeminista. Isso pode indicar que, apesar do crescimento das posturas contrárias à igualdade, ainda há espaço para um diálogo mais diverso e equilibrado”, afirma Luisa García, CEO Global de Corporate Affairs e coordenadora do estudo.
Para realizar este relatório, a LLYC analisou a conversa no X em 12 países da América Latina, Europa e nos EUA, o que permitiu estudar 8,5 milhões de mensagens das duas comunidades. Além disso, as descobertas foram contrastadas com estudos de instituições reconhecidas e meios de comunicação que respaldam a informação obtida. A pesquisa empregou técnicas avançadas de Aprendizagem Automática (Machine Learning), clustering e processamento de linguagem natural, assim como métricas de dispersão, para analisar a distribuição de cada comunidade, e análise de sentimento, para identificar as emoções nas conversas.
Algumas das principais conclusões do relatório:
- Em países onde o feminismo tem maior presença na agenda pública, o debate é mais diversificado e moderado.
Nos territórios com menos debate sobre igualdade, o discurso antifeminista é mais agressivo. No Brasil ou na Espanha, por exemplo, a radicalização da comunidade antifeminista supera 80%. Enquanto em países como Colômbia ou Argentina, onde a conversa é mais equilibrada, a comunidade feminista é 55% mais diversa do que a anti-igualdade. - O antifeminismo é definido como um lado menos diverso e mais radical.
Em países como Chile, Espanha e EUA, mais de 75% dos discursos antifeministas provêm de comunidades altamente homogêneas, sem diversidade interna. Além disso, no Brasil e nos EUA, 85% destas mensagens estão ligadas a ideologias de direita ou extrema direita, enquanto no Chile e na Colômbia, um terço associa o feminismo a ideologias estrangeiras, reforçando uma percepção de ingerência política e cultural. - As redes sociais consolidaram-se como uma ferramenta de ataque.
Grande parte do discurso antifeminista é baseado na deslegitimação por meio de ataques e estereótipos. Na Argentina, uma em cada cinco mensagens antifeministas usa termos para desacreditar as feministas com palavras de baixo calão, empregados com a intenção de menosprezar e em sentido pejorativo. Por outro lado, na Espanha e nos EUA, os ataques se concentram na aparência. No X, os detratores recorrem à ridicularização e ao exagero para apresentar o feminismo como extremista, usando um tom satírico e sectário que dificulta o diálogo. - O lado antifeminista acredita que o movimento é um perigo para a família e os valores tradicionais.
Dezessete por cento da comunidade anti-igualdade considera o feminismo uma ameaça para a família e os valores tradicionais, enquanto 15% acredita que ele distorce a hierarquia que deveria reger a vida das mulheres. No entanto, a verdadeira ameaça não é o feminismo, mas a falta de corresponsabilidade e equidade. As mulheres ainda dedicam três vezes mais tempo do que os homens a tarefas não remuneradas. - As redes sociais amplificaram a polarização de gênero, favorecendo a propagação de discursos machistas, especialmente entre jovens.
Os algoritmos de plataformas como X e Instagram priorizam a viralização de mensagens curtas, como vídeos curtos e memes, que amplificam e distorcem temas complexos. Isto criou um terreno fértil para os discursos antifeministas, em que as reações rápidas amplificam a resistência ao feminismo. Um exemplo claro é o apoio de 30% dos homens entre 16 e 29 anos a ideias promovidas por Andrew Tate, um influenciador e ex-boxeador britânico, que se autoproclama misógino. - A polarização ideológica varia de acordo com o contexto local, com uma divisão crescente entre comunidades.
No Chile exemplo, tanto o feminismo como o movimento antifeminista são surpreendentemente homogêneos, sendo o feminismo três vezes menos diverso e o antifeminismo quatro vezes menos diverso do que a média mundial. Em contrapartida, o Equador se destaca pela sua maior pluralidade, com um feminismo 55% mais diverso e um antifeminismo 22% mais variado.