Eleições 2026: uso do WhatsApp exige estratégia e ética


O aplicativo de mensagens com envio gratuito de textos, áudios, vídeos e chamadas pela internet WhatsApp se popularizou como alternativa ao serviço pago de SMS. Uma pesquisa da Opinion Box sobre uso do aplicativo no Brasil indica que ele é aberto diariamente por nove em cada dez pessoas, e 59% o checam várias vezes ao dia.
O Brasil é o terceiro maior mercado global do WhatsApp, rede social mais usada no país, com 93% de usuários ativos, segundo levantamento da Statista. De acordo com a análise, o uso intenso do aplicativo o colocou no centro das discussões políticas nas eleições de 2018 e 2022.
Paulo Pontes, mercadólogo, estrategista político e CEO da Pontes Comunicação Política, observa que o uso do WhatsApp evoluiu entre os ciclos eleitorais, de um cenário desregulado em 2018 para maior fiscalização em 2022. Para 2026, ele prevê campanhas mais estruturadas, com bases legítimas e foco em conteúdo informativo e legalmente seguro.
“Com alto índice de leitura de mensagens, o aplicativo oferece canal direto de proximidade com o eleitor. Contudo, carrega riscos como desinformação, disparos em massa e uso indevido de dados pessoais, exigindo vigilância constante e regulamentação rigorosa da Justiça Eleitoral”, afirma Pontes.
Segundo o estrategista político, o WhatsApp consolidou-se como uma ferramenta de comunicação direta e de baixo custo que fortalece o vínculo emocional com apoiadores e agiliza a disseminação de informações, especialmente para candidatos de médio e pequeno porte que buscam mobilizar comunidades locais.
O relatório da Statista mostrou que a integração dos anúncios do Facebook e Instagram com o WhatsApp o tornou uma ferramenta essencial para a publicidade digital. Segundo a Procuradoria-Geral da República, o impulsionamento digital de campanhas pode ser feito por candidatos ou partidos, e deve conter identificação clara de propaganda eleitoral.
As regras da propaganda eleitoral na internet também autorizam federações, coligações e seus representantes a contratar e pagar impulsionamento. No entanto, o conteúdo deve promover ou beneficiar candidaturas – nunca divulgar propaganda negativa – e conter o número do CNPJ ou CPF do responsável.
“Uma estratégia eficaz e legal de disparo começa com o opt-in – consentimento ativo do eleitor para receber mensagens. Isso pode ser por formulário, QR code ou mensagem inicial. Não é envio em massa, mas comunicação segmentada, informativa, transparente, com remetente claro e declarada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, declara o especialista.
Funcionalidades do WhatsApp e ética eleitoral
Pontes pontua que o WhatsApp oferece diversas funcionalidades úteis em campanhas eleitorais, como listas de transmissão para mensagens segmentadas, grupos e comunidades para mobilização e debate, chatbots para atendimento rápido e status para engajamento visual, cuja escolha depende da estratégia e dos objetivos da campanha.
“Nas listas de transmissão, a diferença entre uma estratégia legítima e um disparo em massa ilegal está no consentimento ativo do eleitor e na segmentação. O envio deve respeitar os limites do WhatsApp, ser transparente e informativo. Disparos ilegais usam bases não autorizadas legalmente, automação clandestina e volume excessivo, sem autorização do destinatário, geralmente para espalhar desinformação”, explica o mercadólogo.
Para o especialista, a eficácia aliada à ética e transparência no uso do WhatsApp é plenamente possível e desejável, pois constrói confiança com o eleitor. Para isso, as campanhas devem priorizar a construção da base de contatos com opt-in, garantindo que as mensagens cheguem a quem realmente tem interesse, o que eleva a taxa de abertura e engajamento.
“É fundamental produzir conteúdo relevante e verdadeiro, focando em propostas, agenda, prestação de contas e informações úteis. Além disso, as mensagens devem identificar claramente o remetente — candidato, partido ou comitê — fortalecendo a credibilidade e evitando o anonimato, comum em práticas abusivas”, aponta Pontes.
O mercadólogo ressalta a importância de respeitar a privacidade, definindo uma frequência razoável e respeitando horários para não sobrecarregar o eleitor. Segundo ele, é importante oferecer opt-out – canais de saída – para que o eleitor tenha liberdade e praticidade para deixar de receber as mensagens.
“A automação, como o uso de chatbots, deve ser aplicada para serviço ao eleitor, respondendo dúvidas e fornecendo informações, não para disparar mensagens indiscriminadamente. As campanhas devem se posicionar ativamente contra a desinformação que as afeta ou que é gerada em seu nome, e colaborar com as iniciativas do TSE”, orienta o estrategista político.
Para Pontes, o uso ético do WhatsApp em campanhas deve se basear em princípios claros como a transparência, os objetivos da comunicação e a identificação do remetente. De acordo com o especialista, o compromisso de não disseminar fake news, desinformação ou conteúdos manipulados é fundamental.
“A responsabilidade pelo conteúdo e pelas práticas de comunicação é um princípio essencial, assim como a lealdade, que implica não usar a plataforma para ataques pessoais, difamação ou disseminação de ódio contra adversários”, alerta o especialista.
De acordo com o CEO da Pontes Comunicação Política, a privacidade também deve ser respeitada, evitando o uso indevido de dados pessoais. Ele pontua, ainda, a importância do equilíbrio, para que a comunicação direta não se transforme em assédio digital, respeitando o espaço e o tempo do eleitor.
“Para evitar práticas abusivas ou manipuladoras é essencial que haja inclusão e acessibilidade, como forma de garantir que a comunicação seja clara e adequada a diversos públicos, evitando linguagens excessivamente técnicas ou excludentes, assegurando que todos possam compreender as mensagens transmitidas”, ressalta Pontes.