Psicanalista esclarece principais dúvidas sobre borderline
Embora pouco falado e compreendido, o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) afeta cerca de 2 milhões de brasileiros. É o que destaca uma estimativa compartilhada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que ressalta que o transtorno pode ser considerado muito comum no país.
A Dra. Taty Ades, psicanalista especialista em tratamento com portadores do transtorno de borderline, explica que o TPB é uma condição de saúde mental caracterizada por padrões persistentes de instabilidade emocional, dificuldades nas relações interpessoais, impulsividade e uma autoimagem distorcida.
“Indivíduos com TPB frequentemente experimentam uma intensidade emocional extrema, alternando entre sentimentos de idealização e desvalorização nas relações. Eles podem ter medo intenso de abandono, mesmo em situações onde isso não está presente”, afirma.
Ela ressalta que há diversos desafios diários que fazem parte da vida de uma pessoa com TPB, como a dificuldade para gerenciar relações interpessoais. “A instabilidade emocional pode dificultar relacionamentos saudáveis, com dificuldade para controlar impulsos, levando a comportamentos que geram arrependimento ou consequências negativas”.
Segundo Ades, pessoas com TPB também têm dificuldades para lidar com emoções intensas. Por isso, é comum que um indivíduo com essa síndrome possa sentir-se frequentemente sobrecarregado.
“Autocrítica e sensação de inadequação também são elementos presentes no dia a dia de homens e mulheres com TPB. Inclusive, muitos têm dificuldade em se valorizar ou encontrar um propósito estável”, afirma.
A especialista complementa que também existe a questão do estigma: por vezes, pessoas com borderline enfrentam julgamentos negativos devido à falta de compreensão sobre o transtorno.
Diagnósticos
De acordo com a psicanalista, o diagnóstico de TPB é feito por profissionais de saúde mental, como psiquiatras ou psicólogos, através de:
- Avaliação clínica: entrevistas para compreender os padrões de comportamento, história de vida e sintomas apresentados;
- Critérios do DSM-5: o transtorno é diagnosticado se, pelo menos, cinco dos nove critérios descritos no manual forem atendidos;
- Observação longitudinal: pode ser necessário acompanhamento prolongado para confirmação;
- Exclusão de outros transtornos: é importante diferenciar o TPB de condições como transtornos de humor, de ansiedade ou de personalidade semelhantes.
Tratamento para síndrome pode seguir diversas abordagens
Ades destaca que, hoje, há uma série de abordagens de tratamentos amplamente utilizadas e reconhecidas pela comunidade científica, como Terapia Comportamental Dialética (DBT). “Desenvolvida especificamente para TPB, a DBT ensina habilidades de regulação emocional, tolerância ao estresse, mindfulness e melhoria nos relacionamentos”.
Além disso, prossegue, pode-se utilizar a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que auxilia na identificação e mudança de padrões de pensamento e comportamento desadaptativos e Terapia Focada no Esquema (TFE), que aborda crenças e padrões emocionais arraigados desde a infância.
“Outras opções incluem a Terapia Baseada na Mentalização, que ajuda a entender os estados mentais pessoais e os de outros, e a psicoterapia de longo prazo, que ajuda a explorar questões profundas de identidade e relacionamentos”, explica a psicanalista.
Psiquiatras podem recomendar o uso de medicamentos
Ades conta que, embora não existam medicamentos especificamente aprovados para TPB, os psiquiatras podem recomendar o uso de medicamentos em casos de sintomas intensos de comorbidades, como ansiedade, depressão ou sintomas psicóticos transitórios.
“Os medicamentos podem ajudar com o controle de impulsividade, com a prescrição de medicações estabilizadoras de humor, como lamotrigina, ou antipsicóticos atípicos”, explica.
“O médico também poderá prescrever medicamentos para regulação emocional. Nesse caso, antidepressivos podem ser usados, principalmente ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina), afirma. “Já para auxiliar pacientes que têm TPB e sofrem com insônia ou crises intensas de raiva, sedativos ou ansiolíticos podem ajudar em casos específicos”, acrescenta.
Fatores de risco demandam atenção
Para Ades, vale chamar a atenção para os fatores de risco de TPB, que incluem histórico de abuso, negligência emocional ou traumas na infância, além de um componente genético e neurobiológico.
“Muitas vezes, o paciente e seus familiares podem se sentir temerosos com relação ao prognóstico de TPB. Porém, com tratamento adequado, é possível melhorar ao longo do tempo, especialmente na regulação emocional e na qualidade de vida”, explica.
Ades ainda fala sobre a importância do suporte para os indivíduos que convivem com a síndrome: “Grupos de apoio, amigos e familiares podem ser fundamentais na recuperação. Preste atenção ao autocuidado: terapias complementares como meditação, exercícios físicos e hobbies podem ajudar no manejo de sintomas”, afirma.
Para mais informações, basta acessar: https://www.instagram.com/tatyades/