No ano passado “Melanie” (não é seu nome verdadeiro) foi pedida em casamento por “Jeff”, com quem namorava havia sete anos. O pedido veio acompanhado de um ultimato. Jeff tinha traído Melanie pouco antes e depois terminado com ela, mas os dois continuaram em contato porque tinham planejado uma grande viagem juntos para o mês seguinte.
Dias antes da viagem, Jeff pediu Melanie em casamento e lhe deu duas alternativas: casar-se ou cortar contato para sempre. Melanie disse que precisava refletir antes de responder, especialmente em vista dos abalos recentes no relacionamento deles. “Do jeito como ele fez, eu me senti encurralada”, ela disse ao HuffPost. “Aquilo me fez chorar inconsolavelmente sempre que eu estava sozinha, porque ele só me deu duas opções: ou nos casávamos ou não seríamos sequer amigos. E ele era meu melhor amigo havia quase 20 anos.”
Durante vários meses eles tentaram tudo para fazer o relacionamento funcionar, mas Jeff foi ficando cada vez mais controlador, e este ano eles acabaram terminando tudo.
É claro que nem todo o mundo que dá um ultimato de casamento a seu parceiro (“se não estivermos noivos ou casados até a data X, vamos terminar tudo”) o faz de uma maneira tão abertamente manipuladora. Algumas pessoas ficam frustradas, sentindo que o relacionamento não está avançando, e talvez pensem que dar um ultimato é sua última opção (alerta de spoiler: não é). Algumas pessoas não sabem se comunicar de modo sadio e não conhecem outra maneira de deixar claro para seu parceiro o que estão querendo lhe dizer.
“Os ultimatos geralmente não dão em coisa boa, mas cada caso é um caso”, comentou a psicóloga e coach de relacionamentos Samantha Rodman.
Pedimos a especialistas em relações conjugais que explicassem por que as pessoas emitem ultimatos de casamento, por que os ultimatos geralmente não têm o efeito pretendido e o que fazer em vez disso.
Por que as pessoas lançam ultimatos de casamento
As pessoas que apresentam um ultimato a seu companheiro, exigindo casamento, talvez o façam numa tentativa equivocada de satisfazer suas necessidades no relacionamento. Elas estão divididas entre seu desejo de se casar e o fato de seu companheiro precisar de mais tempo antes de tomar essa decisão. Mas é o modo como procuram resolver essa divergência de necessidades que é problemático.
“Acho que elas querem respeitar a hesitação do companheiro e também lhe dar tempo para chegar a uma decisão”, opinou o psicólogo Ryan Howes. “Mas também querem definir um limite para respeitar suas próprias necessidades. Por isso, fixam um prazo.”
Pode também haver outra razão mais subconsciente, segundo Howes. Essencialmente, a pessoa que dá o ultimato pode estar querendo evitar assumir a responsabilidade por suas próprias escolhas na vida, entregando ao seu companheiro todo o poder de tomar decisões.
“Ela quer que seu companheiro decida se vai pedi-la em casamento ou não, porque ela mesma ainda não avaliou adequadamente o que sente sobre a relação”, falou o psicólogo. Em outras palavras, o ultimato é apresentado devido a uma dúvida, e a pessoa que dá o ultimato entrega seu poder de decisão ao outro.
Do jeito que ele fez, eu me senti encurralada. Aquilo me fez chorar inconsolavelmente sempre que eu estava sozinha, porque ele só me deu duas opções: ou nos casávamos ou não seríamos sequer amigos.
“A pessoa verdadeiramente empoderada tem consciência do que quer e sabe pedir o que deseja”, disse Howes. “Essa é a opção mais arriscada, mas a mais poderosa.”
“Você quer se casar? Então que tal dizer a seu companheiro que você quer se casar e perguntar o que ele quer?”, sugeriu Howes. “Se ele disser que não, ou não já, então a decisão de ficar ou de terminar com ele será sua, ciente de que o pedido de casamento pode ser feito dentro de seis meses ou talvez nunca.”
Depois, pergunte a você mesma se está disposta a esperar.
“Você quer esperar? Então espere, e essa é sua escolha”, disse o psicólogo. “Quer desistir dessa relação e buscar outra pessoa que tenha mais certeza? Então faça isso. Pressionar seu parceiro a tomar uma decisão é uma maneira de fugir de seu próprio poder e capacidade de decidir.”
Por que os ultimatos não funcionam (ou, pelo menos, não funcionam bem)
Digamos que você fale para seu amado que se ele (ou ela) não lhe pedir em casamento até o próximo verão, você vai procurar alguém que o faça. Talvez até o assuste tanto que ele lhe peça em casamento. Mas será que é realmente assim que você quer iniciar o próximo capítulo do relacionamento de vocês?
“Ninguém gosta de se sentir ameaçado”, comentou Rodman. “Agora, se você está genuinamente declarando seus limites e suas intenções – por exemplo, que você pretende se casar antes de chegar aos 30 anos ou que está perdendo o interesse no relacionamento porque não vai dar em casamento –, então compartilhe esses sentimentos com seu companheiro.”
E se ele disser “não”? “Esteja preparada para ir embora”, recomendou Rodman. “Não empregue isso como tática de manipulação.”
Ryan Howes, psicólogo disse que, se você acha que dar um ultimato é sua única opção, considere isso um sinal de que nem tudo vai bem no relacionamento. O casamento implica uma vida a dois dividindo decisões, discussões, debates e concessões. Essa será apenas a primeira de muitas grandes decisões que vocês terão pela frente.
“Se você já está pensando em lançar um ultimato no início de um relacionamento, como isso pode se desenrolar mais para frente?”, disse o psicólogo. “Como ficarão as coisas quando vocês discordarem em relação a filhos, carreira profissional, educação dos filhos, gestão do dinheiro, economias, testamentos? Não seria melhor começar desde o início comunicando as coisas com clareza e chegando a acordos que satisfazem a ambos, em vez de iniciar a relação com uma jogada de poder?”
Um ponto a destacar: existe uma grande diferença entre defender o que você deseja ou precisa em um relacionamento e apresentar um ultimato. Ninguém está pedindo que você abra mão do que é verdadeiramente importante para você (no caso, o casamento). É uma questão de como você manifesta isso.
“Se uma pessoa acha que vai realmente partir para outra se não se casar, essa é uma coisa sincera e verdadeira para compartilhar com o outro”, disse Rodman. “O ultimato não deve ser falso, não deve ser uma ameaça que você lança, mas que não é para valer.”
E saiba que, mesmo que seu companheiro acabar pedindo você em casamento, podem restar alguns resquícios de amargura depois. Ninguém gosta de se sentir encurralado.
“Às vezes atendo um paciente que passou por isso. Geralmente a pessoa acaba nutrindo ressentimentos mais tarde”, falou Rodman.
O que fazer em vez disso
A maneira correta de abordar o assunto é direta e franca: apresente seu argumento (“quero ficar noiva antes dos 33 anos e quero estar casada antes de começarmos a ter filhos”) e pergunte a seu companheiro como ele encara a questão, recomendou Howes. Ouça o que ele tem a dizer e então decida por você mesma se está disposta a esperar ou se prefere partir para outra.
“Acho que a única discussão a ter com seu companheiro é ‘eu quero me casar, e você?'”, falou Howes. “Quando você ouvir a resposta dele, tome sua decisão. Esperar para a outra pessoa determinar seu futuro é desempoderador.”
Desista da ideia de um pedido de casamento totalmente inesperado, aquela coisa de contos de fadas. O futuro de vocês dois juntos é algo que precisa ser discutido exaustivamente antes de vocês sequer cogitarem em ficar noivos. Se você ou seu companheiro estão realmente na dúvida sobre o futuro do relacionamento, talvez valha a pena procurar uma terapia de casal para tomar consciência do que vocês sentem de verdade.
Howes concluiu: “Para mim, o pedido de casamento deve ser apenas uma formalidade cerimonial. As discussões sérias sobre compatibilidade, desejos e o futuro devem ter começado há algum tempo já.”
Fonte e texto publicado: HuffPost US – By Kelsey Borresen
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